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Separação da Natureza-Cultura

Posted on 29/6/13

 

As sociedades ocidentais entendem o homem como um ente separado da natureza. Tudo aquilo que compõe o mundo é visto pelas sociedades industriais como “coisas” a serviço dos homens, que podem utiliza-las quando quiserem e como quiserem desde que tenham construído os instrumentos necessários para isso. Esta maneira de pensar gerou destruição e devastação em todos os lugares por onde passou, gerou a exploração da natureza pelo homem, e também do homem pelo homem. Esta visão de mundo construiu e foi construída pela ciência moderna ocidental que domesticou a natureza a partir de sua classificação em categorias, ou seja produzindo “caixinhas”. A partir disso, grande parte das ciências modernas atuam através do “conhecer para conquistar”.

A destruição por sua vez gerou uma reação, uma tentativa quase desesperada de procurar proteger o que restou. O problema é que esta reação fez uma crítica rasa da questão, continuando a ver o mundo a partir da separação entre humano e natural, entre natureza e cultura, o que permite entender o homem como um inimigo da natureza. O princípio orientador destas atitudes “ambientalistas” baseia-se na ideia de ‘natureza intocada’, de que o ser humano esteja por alterar toda a biosfera, sendo necessário conservar pedaços do “mundo natural” em seu “estado originário”. Segundo esta visão a melhor maneira de garantir a preservação das matas seria a proibição expressa de qualquer atividade humana nessas áreas. As ações sobre os meios naturais “preservados” devem ser apenas de repressão e fiscalização.

Entretanto, as populações que não entendem a cultura como separada da natureza, enxergam as matas, mares, rios, etc, como espaços vividos, por elas transformados, sem necessariamente causar prejuízos aos ecossistemas. Pelo contrário, a ação humana, dependendo do modo de organização social e cultural das populações pode manter a integridade dos ecossistemas ou até ajudar a aumentar a biodiversidade. Subjacente a essas análises está a defesa da centralidade do conhecimento tradicional no debate sobre desenvolvimento sustentável como uma alternativa às soluções tecnicistas predominantes. O reconhecimento da importância dos saberes das populações indígenas é um dos mais importantes caminhos de estabelecimento de um diálogo com as populações envolvidas em práticas de conservação.

 

 

Além da separação entre o homem e a natureza, o conhecimento ocidental operou outra separação: a do homem em relação a sua própria cultura. Essa separação do homem em relação a sua cultura é o que permite que atualmente ainda vigorem visões de que os Tupinambá foram extintos, ou mesmo a afirmação que trata-se, de fato, de indígenas na região de Olivença mas que esses indígenas foram aculturados e estariam, de alguma forma, tentando interpretar o que uma vez no passado já foi um Tupinambá.

 Na base destas afirmações encontra-se o discurso científico que reivindica para si uma legitimidade maior do que a de todos os outros discursos, como se tivesse uma forma de olhar o mundo mais “objetiva” e “próxima à realidade”. Neste contexto, todas as outras formas de ver o mundo são colocadas como meras crenças ou opiniões. Na esteira desse conjunto de pensamento, tanto o Estado como parte da comunidade científica e opinião pública, consideram os antropólogos os únicos ou principais habilitados a traduzir a “verdade” dos povos indígenas. Contudo, em nosso percurso pelos Tupinambá vivenciamos uma crítica radical pelos próprios indígenas a esta postura,  que reiteravam de diversas maneiras a importância do autoreconhecimento. Ninguém duvida que o discurso antropológico foi necessário ao processo de reconhecimento étnico e de demarcação do território Tupinambá de Olivença, sendo o trabalho dos antropólogos e outros acadêmicos fundamental para isso. Faz-se necessário, entretanto, ressaltar a crítica feita pelos próprios indígenas de que o discurso acadêmico e técnico não são mais legítimos do que todos os outros. Assim como, faz-se necessário ressaltar também que essa crítica já foi incorporada por uma parte específica da antropologia, que tem em sua base uma inflexão antropológica ancorada na luta e nos movimentos indígenas.

 

 

 

 

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